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Invisíveis do Forró Dança
por iris De franco| outubro 2023
Blog Enxamia.com

        

texto escrito por iris De franco   |   outubro 2023

pesquisa realizada em parceria com Evandro Paz

texto dedicado à Isabel Santos que fez parte da formação deste pensamento

 

O Forró Dança tem um papel fundamental no fomento, salvaguarda e formação no que diz respeito ao Forró como um todo, mas ainda tem visibilidade restrita perante instâncias de poder no setor público e privado. Este tema já foi bastante discutido e evidenciado, na Pré-conferência do Forró realizada pelo MCCSP (Movimentos Culturais da Cidade de São Paulo), nos Fóruns de Forró Raiz de SP e de outros estados. 

São as/os professoras/es de Forró Dança em seus cursos e aulas que ensinam música, História e Estilo de vida do Forró para além de movimentos, passos e estilos de dança, são elas/es que muitas vezes apresentam novas/os artistas, novas músicas e bandas às/aos/aes forrozeiras/os/es e para quem está chegando no meio do Forró. São professoras/es que colocam insistentemente as músicas nas suas aulas de Forró Dança até as/os alunas/os/es se familiarizarem com as letras, andamentos, musicalidade, instrumentos, eles e elas compartilham playlists, singles e álbuns nas redes e nos zaps zaps, comentando os pormenores destas músicas e da história e estilo das/os artistas. Muitos professoras/es de Dança divulgam festas, baladas, bandas e organizam verdadeiras excursões com suas/seus alunas/os/es para festivais e eventos de Forró, mesmo às vezes não estando presentes nos mesmos e não ganhando nenhum obrigada/o por este trabalho.

Quando uma pessoa começa a dançar ela deixa de ser mera/o/e espectador/a/e e passa a participar da festa de Forró, tornando-se assim um/a/e multiplicador/a/e da cultura forrozeira. Quem dança se torna artista e a própria obra de arte, fazendo cultura junto com as musicistas e músicos. A magia de dançar é a magia de fazer parte da criação, ser criadora/r/e, agente da vida e não mero espectador/a/e de algo externo, é não estar passivo fruindo a arte, mas sim participar dela ativamente. 
 

Dançar Forró é um instrumento potente de empoderamento e é altamente terapêutico. O abraço do Forró e a vivência em comunidade que esta cultura vivencia, traz noção de pertencimento e identidade para uma sociedade fria, individualista e esvaziada de raízes, traz acolhimento e segurança para as cidades cosmopolitas e contemporâneas. E as/os/es professoras/es de Forró Dança têm papel fundamental no desenvolvimento desta arte e cultura do abraço, pois são elas e eles que ensinam como abraçar com conforto, respeito e porque o abraço é tão importante para o Forró.

O Forró prosperou na Europa por conta dos professoras/es de Forró Dança e forrozeiras/es/os que migraram para lá a partir dos anos 2002 com o impulsionamento das bolsas-sanduíche internacionais através de verbas da CNPQ e outros incentivos de pesquisa nas Universidades Federais do Brasil e intercâmbio com exterior, entre os anos 2002 e 2014 e também com o barateamento das passagens aéreas no mesmo período e baixa do Euro e Dólar. Forrozeiras/os/es, estudantes no exterior, e brasileiras/os/es migrantes iniciaram verdadeiras comunidades nas cidades para onde foram, organizando pequenas festas de Forró e aulas de dança, ensinando as/os/es estrangeiras/os/es a dançarem e compartilhando conhecimento sobre a cultura e arte do Forró. 

Depois começaram a surgir grupos de músicos e musicistas na Europa e também aconteceu a importação de artistas brasileiras/os para estas festas de Forró já estabelecidas nestas comunidades.  Depoimentos sobre a história de pessoas que vivenciaram e foram agentes deste processo são encontrados na internet por exemplo em podcasts e lives como Evandro convida ( https://youtube.com/playlist?list=PLspcftA2RJ68cSdkXt3-yhKO0woBovnmD&si=SKlpqzlDHn-zUODS ) e As Mulheres do Forró: Uma História contada por Elas ( https://www.youtube.com/watch?v=-u1jnf7MCS0&list=PLJISFHJLmzSE-ppCbMfnWzzzZn9-ir41W ). Alguns pioneiros neste processo foram: Terra do Forró de Domingo de Stuttgart, Átila Vim Vim que foi do Forró Vem Vem e hoje faz o Forró Basel, e depois vieram as/es/os gringas/es/os forrozeiras/os que se apaixonaram pelo Forró e se tornaram importantes agentes formadoras/es, como Marion Lima do Ai que Bom Paris.

Até hoje, na Europa, as/os/es professoras/es de Forró Dança são muito mais valorizadas/es/os que aqui no Brasil pelas/es/os produtoras/es e muitas vezes ganham de igual para igual com músicos e musicistas. Mais uma vez se verifica com este fato que o Brasil sucateia a educação. As/os/es produtoras/es estrangeiras/os/es reconhecem o papel das/os/es professoras/es de Forró Dança na formação de novas/os/es forrozeiras/oes/es e na salvaguarda e fomento da cultura e arte do Forró, bem como salientam a importância da dança na cultura forrozeira não ser apenas entretenimento.

Forró Dança é arte e cultura e a educação é fundamental para garantir a perpetuação deste Patrimônio, por isso as/os/es professoras/es, detentoras/es e mestras/es são estruturais neste processo. Instituir um ensino de Forró é fundamental para formação de público e salvaguarda da arte e cultura, nas festas, festivais, baladas e também nas escolas Infantis, Fundamentais, de Ensino Médio, Técnico e nas Universidades.

Aqui no Brasil existem muito mais eventos que sublinham o aspecto de entretenimento, eventos voltadas/os para a música, pois este é um setorial que historicamente está ligado às mídias, rádios, TVs e gravadoras, onde é aportada uma quantidade de dinheiro gigantesca, e por isso alguns artistas têm a capacidade de se destacar em grandes mídias de difusão nacional e internacional, como aconteceu com Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Mariana Aydar e Mestrinho.

Ao Forró Dança não há grandes aportes de dinheiro ou visibilidade nas grandes mídias pelo fato desta modalidade não estar ligada aos padrões estéticos da branquitude elitista que dita o que é arte e o que não. O Forró Dança é muitas vezes engruvinhado e incompreendido em sua estética, que pode ser torta, aterrada e brejeira. É feito para fruição com o par e com o grupo e não fundamentalmente para apresentação e deleite estético, é uma dança para sentir e não para olhar, o Forró Dança é a essência da cultura e arte popular de um povo miscigenado com matriz afro, indígena e branca. Forró, principalmente, é dança de “terreiro”, é necessário vivenciar esta arte e cultura por muitos anos no gueto, na comunidade, para entender e sentir no coração o que ela é e representa, não dá para catalogar de fora, ou vivendo pouco, nem tentar entender com a régua do Balé Clássico e Contemporâneo.

Forró Dança é transmitido corporalmente através de aulas e das/os/es detentoras/es da cultura e por forrozeiras/os/es que vivenciaram muito este ambiente, pessoas que dançam nas festas de Forró. As/es/os detentoras/es, artistas e professoras/es de Forró Dança deveriam receber para estarem presentes nas festas e ministrarem aulas, pois é o Forró Dança que garante a continuidade da cultura e da arte e o entendimento da grandeza e importância de uma cultura e arte patrimonial como o Forró. Por isso, é imprescindível acontecerem contratações de professoras/es de Forró Dança nos eventos de Forró e nas escolas, estas/es profissionais são bastante responsáveis por perpetuar a cultura e formar novos públicos.

A prefeitura, estado, a federação e as/os/es produtoras/es de Forró precisam sair de seus lugares de poder e compreender quem são seus parceiras/os/es e quem faz a cultura e a arte do Forró, injetando dinheiro na formação, fomento e salvaguarda do Forró e valorizando as mestras/es, detentoras/es e professoras/es do Forró Dança não só com visibilidade, mas também com pagamento, verba e condições para que aulas aconteçam em espaços silenciosos, sem passagem de som concomitante, sem chuva, com piso adequado para não machucar o corpo das pessoas, com microfones de lapela para os professoras/es não causarem danos a suas vozes e poderem ministrar oficina e serem bem compreendidos. Mestras/es, detentoras/es e professoras/es do Forró Dança, são estas/es gigantes invisíveis que fazem o trabalho educacional de formiga para que a cultura e arte patrimonial do Forró se perpetue através dos tempos e clamam por valorização, espaço e remuneração adequada. Se o Forró recebeu o título de Patrimônio do Brasil, agora é hora dele ser honrado para que se perpetue da melhor forma às próximas gerações e nada melhor que a educação para fazer este papel.



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