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Dançar é um ato político

por iris De franco

setembro2020

 

          Como diria Aristóteles: somos seres políticos. E, mesmo quem se diz alienado, faz política toda hora, na dança também fazemos política. Nossos seres e corpos são carregados de discursos, comportamentos culturais e performam o tempo todo fazendo escolhas que sublinham ou não as relações de poder da sociedade patriarcal.

       Fazemos política quando escolhemos comprar a banana de um grande latifundiário, do feirante ou de um pequeno produtor, ao usarmos absorvente de plástico ou de pano. Quando consumimos uma roupa feita de petróleo, além de estarmos dando lucro para alguma petroleira, estamos poluindo os rios com microplásticos que serão comidos pelos peixes e recomidos por nós mesmos, uma escolha política. Todo mínimo ato nosso de cada dia tem uma consequência. O simples fato de optarmos por um serviço faz com que validemos ou não as relações de poder da sociedade patriarcal, preservemos mais ou menos o planeta e com que a riqueza do mundo seja mais ou menos distribuída.

        Na dança fazemos política: quando escolhemos ou não dançar determinado estilo, ou com um par. Ao fazermos ou não um certo charme, conduzir ou ser conduzidx? Propor, interpretar, compartilhar.... Fazemos política ao frequentarmos ou não uma balada, ao escolhermos nossxs parceirxs e aceitarmos ou não propostas de trabalho. Fazemos política com os vizinhos, familiares e companheirxs e podemos validar relações verticais de poder ou reforçar diálogos mais horizontais e menos opressores. Viver é um ato político e não adianta querermos lavar as mãos, pois vai sobrar para nós mesmxs ou alguém próximo pagar a conta: o mundo é responsabilidade de todxs. Toda mulher, se parar para pensar, já sofreu algum tipo de violência de gênero, já se sentiu algumas vezes ou muitas, insegura voltando para casa de noite, toda mulher dentro dança já sofreu assédio em algum nível.

          Nosso corpo é carregado de comportamento e performance de gênero, classe, raça; impregnado de discurso político, não há dança despretensiosa. Mas sim, pessoas que refletem e fazem conscientemente uma dança política e outras que preferem não pensar no assunto, mas continuam tendo corpos e discursos que tomam posição políticas.

 

#corpopolitico

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